quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Finalmente Morto!

'Verão de 643

Em meu quarto fétido, esquecido, desconfortável e escuro, havia uma pequena janelela no alto, por onde diariamente o sol cegava meus olhos por algum tempo. Nada agradável, mas o que poderia eu fazer? Dominado pelo tédio, com o tempo, passou a ser um momento único para mim; uma diversão, uma brincadeira, excitante, meu orgasmo melancólico.
Certo dia, não por mero acaso penso eu, a porta foi escancarada com violência. Nesse exato momento, eu era cegado pela luz penetrante do sol, e assim, não vi o que se passou. Enquanto eu lutava pra enxergar algo, houve um baque, como se algo tivesse sido arremessado com grande brutalidade para dentro da cela.
Logo a porta voltou a ser fechada e um choro penoso surgiu em meio à escuridão. Não tive esperanças que me tirassem dali, mas fiquei intrigado com a nova companhia; havia um novo sabor no ar. Nunca me esqueci daquele perfume.
Em meio às trevas, o choro persistia, intenso e convulsionado. Como um rio que nasce no alto da montanha e vai ganhando força à medida que desce, aquele choro fez com que eu lembrasse de que ainda havia sentimentos, mesmo que longe de mim. E logo a curiosidade me consumiu.
-Porque choras criança? - Perguntei instintivamente.
Ela não respondeu e nem o choro cessou. Ficou ainda mais intenso e tristonho.
-Acalme-se minha jovem. Não queres entristecer a um velho moribundo. -
Como resposta, o choro aos poucos cessou, se transformando em fortes soluços.
-Haverá algum velho com voz tão jovial ou algum moribundo com tanta força no falar? – Respondeu-me uma voz doce e amável; porém bastante angustiada.
-Não se iluda. Sou um vampiro. O mais velho de todos vivos. Tão velho que estou farto da vida. Mas ainda não me respondeste o que te afliges?
-Ora, não hei de falar a meu respeito para um estranho. - disse a moça com firmeza.
-Desculpe meus maus modos. Mas nomes não significam muito. Na verdade de nada servem se não souberes Quem sou.
-Insisto em um nome.
-Julius. E teu nome, qual é?
-Como vou saber que está falando a verdade?
-Não vai. Cabe a você acreditar ou não.
Ela pensou durante certo tempo:
-Sofia. - respondeu de supetão.
-Ó, que belo nome! Diga-me, Sofia, por qual motivo estava aos prantos?
-Não vale a pena falar de nossos medos.
-Talvez a alegraria perceber que se nossos medos não conseguem nos calar, podemos enfrentá-los.
-Choro por saber que não pude.
-O choro é o protesto dos fracos.  -
-O desabafo da alma oprimida. -
-Não será assim por muito, logo morrerás aqui. – Afirmei com veemência.
-Suas palavras soam como veneno para mim.
-Porque temes a morte, acaso ela lhe fez algum mal?

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