domingo, 18 de setembro de 2011

-O que te faz pensar que não faria? – Num tom desafiador


Então algo me veio à mente, como resposta àquela pergunta:


       Durante séculos criei,
       incontáveis versos mortais.
       E os meus inimigos amaldiçoei,
       os quais não me perturbam mais.

       Estive em um sonho profundo,
       onde tristeza e dor dominaram o mundo,
       onde o sol não retornava de manhã 
       onde não restou mente alguma sã.
                                                                                                                                                                                                
       Mas o futuro é incerto,
       e jamais vão lhe prever.
       Só foi pré-destinado correto,
       que vamos morrer.
                             
       E sem a morte que graça haveria?
       Condenado ao tédio eterno seria.
       Desejo agora uma estaca no peito,
       E assim, descansar com paz em meu leito.

       O fim está chegando,
       nem eu escaparei.
       Ouvi O Mal celebrando,
       o retorno de seu Rei.


Embalado pelo momento ou mesmo enfeitiçado por aquela bela voz que ainda ressoava em minha cabeça, desfaleci.

Acordei com o barulho que a pesada porta de ferro fez ao ser aberta pela segunda vez naquele dia quente de verão. Uma luz vermelha entrou abundantemente pelo recinto e vozes esganiçadas surgiram junto:
-Vampiro! Sua hora chegou. - e enquanto isso foi dito, inúmeras mãos asquerosas me desatavam e me punham de pé.
-Espere! - gritei. - Deem-me um último pedido.
E apesar do meu estado decadente, ainda havia imponência no meu falar.
-Diga verme. – gemeu uma voz nojenta.
-Gostaria de entregar algo para esta donzela. - e sem resposta alguma, me dirigi para onde supostamente ela estaria. Quando já pude ouvir sua respiração suave, me agachei e tentei me aproximar ao máximo. Senti sua pele quente e macia, e tão logo tentação de mordê-la.
-Tome, é apenas um livro, porém encantador. - sussurrei com um tom distinto em seu ouvido.

Impacientes, os guardas me chutaram para fora, berrando numa língua desconhecida, possíveis maldições e zombarias. Durante muito tempo me guiaram através de corredores e escadarias e tudo o que eu via era o clarão vermelho das tochas incandescentes. Horas decorreram e já acostumado com a luz, pude ver os guardas que me seguravam. Eram seres disformes que traziam consigo o fedor da morte. Amaldiçoados por longos anos perderam suas formas e se tornaram sombras, escravas de suas vontades dementes. Eles eram numerosos e bem armados, uma comitiva comum para escoltar um prisioneiro perigoso. Mas naquele estado eu não representava perigo algum. Estava em pele e osso, sem minha arma e armadura e principalmente, sem meu livro mágico.
 De súbito, pararam de frente a um portão.
-Sua viagem termina aqui. - um guarda disse. 

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