-O que te faz pensar que não faria? – Num tom desafiador
Então algo me veio à mente, como resposta àquela pergunta:
Durante séculos criei,
Então algo me veio à mente, como resposta àquela pergunta:
Durante séculos criei,
incontáveis versos mortais.
E os meus inimigos amaldiçoei,
os quais não me perturbam mais.
Estive em um sonho profundo,
onde tristeza e dor dominaram o mundo,
onde o sol não retornava de manhã
onde não restou mente alguma sã.
Mas o futuro é incerto,
e jamais vão lhe prever.
Só foi pré-destinado correto,
que vamos morrer.
E sem a morte que graça haveria?
Condenado ao tédio eterno seria.
Desejo agora uma estaca no peito,
E assim, descansar com paz em meu leito.
O fim está chegando,
nem eu escaparei.
Ouvi O Mal celebrando,
o retorno de seu Rei.
Embalado pelo momento ou mesmo enfeitiçado por aquela bela voz que ainda ressoava em minha cabeça, desfaleci.
Acordei com o barulho que a pesada porta de ferro fez ao ser aberta pela segunda vez naquele dia quente de verão. Uma luz vermelha entrou abundantemente pelo recinto e vozes esganiçadas surgiram junto:
-Vampiro! Sua hora chegou. - e enquanto isso foi dito, inúmeras mãos asquerosas me desatavam e me punham de pé.
-Espere! - gritei. - Deem-me um último pedido.
E apesar do meu estado decadente, ainda havia imponência no meu falar.
-Diga verme. – gemeu uma voz nojenta.
-Tome, é apenas um livro, porém encantador. - sussurrei com um tom distinto em seu ouvido.
Impacientes, os guardas me chutaram para fora, berrando numa língua desconhecida, possíveis maldições e zombarias. Durante muito tempo me guiaram através de corredores e escadarias e tudo o que eu via era o clarão vermelho das tochas incandescentes. Horas decorreram e já acostumado com a luz, pude ver os guardas que me seguravam. Eram seres disformes que traziam consigo o fedor da morte. Amaldiçoados por longos anos perderam suas formas e se tornaram sombras, escravas de suas vontades dementes. Eles eram numerosos e bem armados, uma comitiva comum para escoltar um prisioneiro perigoso. Mas naquele estado eu não representava perigo algum. Estava em pele e osso, sem minha arma e armadura e principalmente, sem meu livro mágico.
De súbito, pararam de frente a um portão.
-Sua viagem termina aqui. - um guarda disse.
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